“Se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós”
Fui buscar o sol para iluminar aquele dia cinzento. Às vezes é preciso. É preciso ir buscar o sol, como nos segredava Ana Luísa Amaral nas suas Imagias, para ver de forma mais clara, o que dentro de nós se acolhe. E assim fui: envolvi o meu corpo desnudado numa folha de ouro declaradamente falso, como o é, por vezes, a nossa memória, e, procurei o caminho, ou melhor, o movimento no caminho que se faz em mim. O movimento é algo que me interessa na imagem, por que o pensamento, assim como a memória, não é estático. Desse exercício de transformação da dor que ensombrava aquele dia cinzento, pari seis imagens e delas me fiz sol e luz. Como noutros momentos só meus, a fotografia liberta-me dos becos sem saída que a vida, por vezes, me reserva e olhando, assim, para dentro de mim, se abrem outros caminhos e outros estados de espírito que me resgatam da melancolia.
(1) O título deste post é um verso singular de Ana Luísa Amaral
Sedimentos, Ensaio, Setembro 2023, Carla de Sousa