Não sei o que me demora
Não sei o que me demora
Se a delicadeza do remate da costura da tua saia.
Se a luz que transborda a fina tela que te envolve,
como um desejo indizível e inusitado, que não se contém.
Não sei o que me demora.
Se o amarrotado do teu vestido.
Se a indiscrição do teu decote.
Não sei o que me demora.
Se o escuro da noite fria.
Se o brilho do luar nos fios do teu cabelo.
Não sei o que me demora.
Se a altivez do teu porte.
Se a primavera que desponta dos teus ramos.
Não sei o que me demora.
Se o choro copioso lá fora.
Se a preguiça do leito que aqui dentro, me prende.
Não sei o que me demora.
Se a cicatriz que orgulhosamente exibes.
Se o sol que de ti emana.
Não sei o que me demora.
Se me revejo na sombra.
Se nos fios ínfimos, íntimos de luz que me acordam.
Talvez, antes de tudo,
nas partículas de pó suspensas que eles adornam.
Sedimentos, 29 de Junho de 2021, Carla de Sousa